domingo, 4 de maio de 2008

Para reflexão

Pessoa autoritária: defeito de caráter ou o quê?

Por que tantas pessoas são autoritárias? Por que elas têm muita dificuldade de admitir que são assim? O que as leva a terem tendência para atitudes de controle de tudo e de todos, atuando como um trator, passando por cima de pessoas, de sentimentos dos outros, impacientes, facilmente irritáveis? Por que elas têm imensa dificuldade de admitir que erram? Será falta de humildade? Será que existe importante insegurança interior que as fazem agir por fora com agressividade enquanto que por dentro se sentem frágeis? Será um distúrbio de caráter que a psicologia sozinha não tem capacidade para resolver? Será uma opressão ou assédio maligno espiritual? Ou será uma combinação de tudo ist o?

Algumas coisas são verdades nesse contexto: 1)A atitude de mansidão é um poder; 2)A vitória não é dos agressivos que machucam as pessoas injustamente, ainda que a aparência indique que sim; 3)Há uma guerra espiritual entre o bem e o mal e isto afeta o dia a dia de nossas vidas e a maneira como nos relacionamos com as pessoas; 4)A pessoa realmente forte é aquela que administra construtivamente suas emoções e não aquela que se deixa levar por elas, explodindo aqui e ali, pisando em cima dos outros, manipulando, controlando, dando uma de vítima, ou atacando; 5)Uma pessoa pode ser ao mesmo tempo mansa, dócil, equilibrada e firme, decidid a, empreendedora, ativa; 6)Há um distúrbio de caráter em pessoas agressivas que entra no campo do orgulho, presunção, prepotência, ironia, que só pode ser resolvido com instrumentalidades espirituais pois saiu do campo da psicologia; 7)A mudança destes problemas é uma questão única e exclusivamente de decisão pessoal, ou seja, ninguém muda ninguém, e somente a própria pessoa que percebe ter realmente problemas de autoritarismo é que pode decidir, escolher fazer algo para mudar, mas se ela permanecer na defesa, acusando tudo e todos pelo jeito de ser, e não admitir a verdade de seu problema comportamental, nem Deus dá jeito, porque ela estará fechada para a luz e para a verdade da sua necessidade de mudança. Se a luz que há em você são trevas, quão grandes são estas trevas!

O jeito de falar autoritário da pessoa explosiva é desagradável porque, a entonação da voz, o ar autoritário, passa uma idéia de desrespeito pelo outro. A intenção consciente pode não ser de desrespeitar nem de agredir, mas a mímica facial, a mensagem do corpo, o tom das palavras, a carga emotiva, podem funcionar como um trator que vai arrastando tudo pela frente, não importando se o outro que está ali na frente é sensível, frágil, simpático, bondoso, ou não. Esta pessoa autoritária age como uma máquina “esquecendo-se” que está lidando com pessoas. Será que ela se vê a si mesma como uma pessoa? Ou uma máquina? Ou nem se vê?

Parece que falta para a pessoa que tem este tipo de temperamento uma sensibilidade consciente, uma consciência de seu jeito agressivo e autoritário de ser. É como uma maioria de políticos que fazem promessas com um ar de prepotência e de como se fossem deuses capazes de resolverem em 5 anos complexidades da sociedade de décadas de existência, sem considerarmos os problemas de caráter dos indivíduos que são impossíveis de serem resolvidos pela via política. Eles atropelam a realidade semelhantemente como a pessoa autoritária e explosiva atropela a outra pessoa com seu jeito de agir inconseqüente, agressivo, insensível, imaturo e, muitas vezes, irresponsável. E assim como o político que cumpriu seu mandato sem cumprir o que havia prometido na campanha, entra em nova campanha e faz promessas semelhantes (e o povo acredita?!), o “temperamental” vira par a quem acabou de agredir com atitudes e jeito de agir, e diz: “Puxa! Deixa de ser tão sensível!”, “Nossa! O que foi que eu fiz para esta pessoa ter se magoado?” Ele pode não perceber. Ou percebe e age na maldade consciente.

O que falta nestas pessoas? Perceber que naquele momento em que elas estão sendo agressivas, elas estão sendo agressivas mesmo, que estão agindo de uma forma agressiva, pelo menos naquele momento. Falta perceber que esta forma agressiva de atuar delas é real. Não é uma questão de que o outro é sensível demais ou exagero do outro. Pode ocorrer isto, é verdade. Mas o chamado “temperamental” exagera no falar com uma carga emotiva forte demais, desrespeitosa, que pode ferir. Falta respeitar o outro evitando ferir a dignidade humana, que é ferida quando alguém agride verbalmente, por questões de temperamento, agindo com a pessoa como se estivesse manejando uma máquina ou ferramenta pesada que exige movimentos brutos, ou como se estivesse racha ndo lenha com um machado.

No fundo algumas destas pessoas são frágeis, dependentes, inseguras, compulsivas que tentam esconder sua fragilidade, dependência e insegurança através desta maneira agressiva de agir, de falar, de se dirigir a outro ser humano. Porém, a outra pessoa não tem culpa de suas inseguranças afetivas, nem do fato de que o temperamental pode ter tido uma infância com fortes modelos de agressividade comportamental na família de origem, ou que seus sofrimentos do passado a tenham produzido esta maneira agressiva de viver (para se defender). Para se defender, atacam. Ou, com medo de serem machucadas, reagem agressivamente. Seu comportamento parece ser ao mesmo tempo uma defesa e um ataque.

Pessoas assim, quando ameaçadas de ficarem sozinhas por quaisquer circunstâncias da vida, em geral (e há exceções), se sentem inseguras, e é quando podem mostrar seu lado dependente, frágil, inseguro. Aí pedem perdão, pedem desculpas, se é que fazem isto, mas já passou por cima do outro, já destratou demais, já produziu tanta dor, já criou afastamento. Daí a tendência é ficarem sozinhas na vida. Elas escolheram isto porque nosso comportamento tem muito de escolha e não de “destino”. Até certo ponto construímos nosso destino.

Será possível aprender a ter autocontrole e assim evitar machucar as pessoas? Sim, é possível. A questão é se a pessoa autoritária irá abrir mão de seu jeito de ser para receber a mansidão. Ela pode ter se acostumado a funcionar assim por tantos anos que não crê ou não confia que pode ser feita uma pessoa mansa e ser feliz. Ela precisará ter a ansiedade excessiva diminuída, porque quanto mais ansiedade menor o nível de consciência, e com o nível de consciência diminuído como é que a pessoa vai perceber que está machucando os outros com seu jeito de ser?


Cesar Vasconcellos de Souza
Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria
Membro da American Psychosomatic Society

Nenhum comentário:

Feeds

Visitantes online - Welcome!

lineflower_gif